quinta-feira, setembro 19

Saúde, conflito de interesses público/privado

Relativamente ao êxodo médico do SNS direi que se tem acentuado nos últimos anos. Quer através da saída (a maioria a tempo parcial) para o sector privado/social, quer por reformas antecipadas. Ou seja, a actual permissividade laboral (chamemos-lhe assim) não tem garantido um SNS estruturalmente mais forte mas precisamente o oposto.
Por outro lado, a capacidade de oferta de emprego do sector privado não é ilimitada. Sabemos que a saúde financeira que aparenta se deve essencialmente à transferência de dinheiros públicos através dos subsistemas, desnatação de patologias e à parasitação do SNS deslocando os casos mais graves e complicados. Estou pois convicto que avançar na separação de sectores, que em meu entender terá de envolver as relações de trabalho dos profissionais, viria em reforço do SNS e não o contrário.
Não querendo fazer demagogia, aqui deixo uma notícia que evidencia bem a irracionalidade a que pode conduzir o conflito de interesses público/privado.
Pai do SNS em lista de espera
Precisa de ser operado às cataratas e diz que o mais certo é ser enviado para o setor privado. António Arnaut, conhecido por pai do Serviço Nacional de Saúde (SNS), está em lista de espera para uma cirurgia aos olhos há seis meses. Em declarações ao CM, o advogado explicou que é seguido no Hospital dos Covões, em Coimbra, e que precisa de ser operado às cataratas.
"O mais certo é ir parar ao setor privado e o Estado pagar a operação", lamenta, sublinhando que "se os blocos operatórios funcionassem da parte da tarde isto não acontecia".
Segundo António Arnaut, que faz questão de ser atendido nos serviços públicos, o SNS tem capacidade para resolver as listas de espera sem aumentar a despesa. Porém, diz, "não há interesse". "O único interesse é favorecer os prestadores privados e tornar a saúde numa mercadoria e cada vez menos num direito", refere, acrescentando que tem uma lista de situações para confrontar com o ministro da Saúde, Paulo Macedo, no próximo dia 27, no congresso da Fundação do SNS, em Lisboa. Para o advogado, a desconstrução do Estado Social que está a acontecer em toda a Europa pode dar origem a uma revolução.
Sónia Trigueirão, CM 17/09/13

Tá visto

Etiquetas: ,