quinta-feira, janeiro 21

Fazer diferente


Fazer mais com menos dinheiro”. Todos nos lembramos do jargão liberal pacotilha, repetido até à exaustão, sempre que a coligação passos/portas avançava para novo pacote de cortes a eito.
Mesmo os liberais pacotilha desconfiavam da treta. Mas todos  fingiam acreditar no patoá.
Inesperadamente, o famigerado governo  liberal pacotilha finou-se num passe de mágica de António Costa.
ACF, aos comandos da geringonça da Saúde, prefere "fazer diferente com o mesmo dinheiro". Assegurando que «dentro da escassez orçamental» o Executivo vai trabalhar na «qualidade e inteligência das escolhas», na substituição das «escolhas erradas pelas certas» e ainda «fazer coisas diferentes, com o mesmo dinheiro» link
Fazer diferente: "A nossa energia vai estar focada em criar uma nova vitalidade do SNS e na reposição do prestígio da instituição e das pessoas que lá trabalham. Queremos dar nota pública de que o SNS é algo que os portugueses respeitam ".
A mensagem parece-nos séria.
Conhecemos ACF. Não é dos que falam, falam, falam. É homem de acção. Workaholic. Inteligente e ambicioso. Batalhador duro.  Que honra objectivos.
Receamos, sim,  a tontice do Fernando Araújo em pretender transformar o serviço público de saúde num «mercado interno competitivo» produtor de mais atos e menores tempos de espera. Custa-nos a acreditar que António Ferreira consiga conduzir a reforma da rede hospitalar a bom porto.
drfeelgood

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10 Comments:

Blogger Voualiejavolto said...

Será que o fazer diferente passa por convida desconvida como está a acontecer com o putativo novo CÁ do CH de Setubal, cedendo a lobbies instalados, pedindo recondução da DC mais contestada dos últimos 15 anos?

12:48 da manhã  
Blogger Augusta EPE said...

Não concordo com o comentário que aqui se faz do SEAS Fernando Araújo. O mercado interno competitivo pode diminuir as ineficiências de hospitais que gerem contratos sem olhar à sua volta, mais parecendo ilhas. Se queremos um "arquipélago" hospitalar, onde cada um faça a diferença mas ao mesmo tempo aproveite ao máximo os recursos de que dispõe, é de louvar o SEAS por ter lançado novamente este tema para o debate. O objectivo não é apenas mais actos, mas actos mais efectivos e a pensar no doente antes de tudo o resto.

10:45 da manhã  
Blogger xavier said...

O terceiro ponto na lista de “encargos” do coordenador nacional para a reforma hospitalar é “Um Sistema Integrado de Gestão do Acesso — SIGA, que facilite o acesso e a liberdade de escolha dos utentes no SNS, nomeadamente no que diz respeito a áreas onde a espera ainda é significativa, criando e estimulando um mercado interno no Serviço Nacional de Saúde;”
Apesar de usar o mesmo nome de um serviço dos CTT, SIGA, o que está aqui em causa é bastante mais do que aparenta, pelo menos potencialmente. Facilitar o acesso é um elemento mas liberdade de escolha dos utentes é algo mais estruturante e como tal a necessitar de muito maior detalhe. Por exemplo, estamos a falar de que acesso (se eu não conseguir ter uma consulta num hospital posso procurar qualquer outro hospital do SNS?), e o que é “espera significativa”? significa apenas ampliar o que já existe com as intervenções para cirurgia com o SIGIC?
Mas para criar um mercado interno no Serviço Nacional de Saúde é necessário pensar nos fluxos financeiros que as escolhas dos utentes terão que necessariamente motivar. Se um cidadão escolher ser atendido num local, significa que esse ponto de atendimento do SNS recebe uma verba adicional por fazer esse atendimento (a velha máxima “money follows the patient” recuperada?). E em caso afirmativo, quem paga? o órgão de gestão financeira do SNS, que nesse caso paga duas vezes, uma à entidade que era suposto prestar o serviço mas não é escolhida e outra vez à entidade que efectivamente presta o serviço? ou é a primeira (a que deveria prestar o serviço e não o faz) que paga alguma verba à segunda, que é quem atende o doente?
E um doente tratado num hospital pode optar por fazer eventuais consultas de seguimento que precise noutro hospital por sua livre escolha? (nesse caso, como e quem assegura a transmissão de informação para que não se perca a continuidade no conhecimento da situação do doente e sua terapêutica).
Além disso, parte-se do princípio que todas as escolhas dos cidadãos são boas, mas será que estão reunidas as condições para que esse processo de escolha possa ter de facto lugar?
Claro que a escolha por parte dos utentes, se feita de forma informada e em condições em que essa escolha venha a refletir os custos gerados pela decisão tomada, pode ser uma forte força de mudança dos prestadores de cuidados de saúde, neste caso os pertencentes ao Serviço Nacional de Saúde. Essa pressão para a mudança e para se ajustarem às preferencias dos doentes só é efectiva se houver um custo envolvido para as organizações de saúde de não conseguirem manter ou atrair doentes. Num mercado privado, esse custo é a falência, a saída, o fecho da actividade (e todos os anos há muitas empresas que fecham e muitas outras empresas que abrem). Mas no caso dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, não há memória que alguma vez um hospital tenha fechado por falta de procura e pressão dos doentes (os encerramentos, quando sucedem, ocorrem dentro de reorganizações de grupos hospitalares, e não são propriamente muito comuns).
...
Pedro Pita Barros, momentos económicos

1:09 da tarde  
Blogger xavier said...

... cont.
Os mecanismos que vão determinar esse encerramento por não ser procurado não são claros hoje em dia, e se a reforma hospitalar for realmente no sentido de liberdade de escolha dos doentes, terá que explicitar muito bem as consequências de não estar nas preferências dos cidadãos.
A liberdade de escolha dos doentes pode também criar problemas de excesso de procura sobre os estabelecimentos do SNS que se revelem mais atractivos. Nos mercados privados, excessos de procura são resolvidos num primeiro impacto com subida de preços e num segundo momento com expansão da capacidade produtiva. Nos hospitais, irá assistir-se a um aumento do preço tempo (tempos de espera a aumentar nos hospitais mais atractivos, e com provável disparar dos mecanismos de acesso informal – alguém que conhece alguém que é amigo do tio de alguém que trabalha no hospital). E com a pressão dos hospitais mais procurados para aumentarem a sua capacidade (o que só pode suceder aceitando que outros reduzem a sua capacidade).
Se o encerramento de unidades hospitalares por falta de procura, isto é, não serem escolhidos pelos utentes do SNS no exercício da sua liberdade de escolha, é admissível, um primeiro passo de credibilização será os presidentes de todas as autarquias assinarem um compromisso de respeitarem as decisões dos seus cidadãos de não escolherem ir ao hospital ou hospitais que estejam localizados nas respectivas autarquias, e de apoiarem então os encerramentos que decorram desta liberdade de escolha dos utentes do SNS. Dei o exemplo das autarquias, mas na verdade a ideia desse compromisso é extensível a todas as entidades, qualquer que seja a sua natureza, que dizem defender os interesses dos cidadãos e dos doentes em primeiro lugar. Não vale estar a dizer que se defende a liberdade de escolha dos utentes do SNS mas apenas desde que eles escolham aquilo que “nós” entendemos que eles devem escolher. E as decisões reais dos cidadãos podem ser muito diferentes daquilo que se antecipa.
Ou seja, há muito mais detrás desta porta do que o simples parágrafo sugere, e será preciso atenção para que não se criem mais problemas do que aqueles que se resolvem.
Pedro Pita Barros, momentos económicos

1:10 da tarde  
Blogger Augusta EPE said...

Para que se complica? Mesmo no caso de PPP esse modelo do mercado interno pode ser visto a funcionar: quem já foi ver a experiência num hospital espanhol, como o de Múrcia, verifica que os doentes escolhem efectivamente, não é "fingido" ou telecomandado. Claro que quem conhece essas experiências também sabe que os fluxos financeiros não estimulam a unidade escolhida a 100% de financiamento e a entidade a quem o doente deveria pertencer é penalizada, como é óbvio. Só que quem viu essas PPP também encontrou um modelo completamente diferente do nosso, pois nelas quem manda é o Estado e no dia a dia intervém activamente na gestão. Que diferença com as nossas...

2:44 da tarde  
Blogger Augusta EPE said...

O hospital de Múrcia é o de Torrevieja. Para quem quiser fica aqui o link:
http://www.torrevieja-salud.com/

4:18 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Não tem nada a ver
O Torrevieja é uma Unidade Local de Saúde, integrando nove Centros de Saúde, gerida por uma entidade privada. O financiamento destas unidades é efectuado percapita.

Torrevieja Salud es una organización formada por Ribera Salud que se encarga de la gestión sanitaria pública del Departamento de Salud de Torrevieja.
Desde su nacimiento, Torrevieja Salud se encarga de la prestación de una Atención Sanitaria Integral, que comprende la Asistencia Especializada y la Asistencia en Atención Primaria, posicionándose como un Departamento de Salud capaz de prestar un servicio sanitario público de la máxima calidad.
En este sentido, el Departamento de Salud de Torrevieja abarca parte de la Vega Baja y engloba los municipios de Guardamar del Segura, San Fulgencio, Formentera del Segura, Rojales, Benijofar, Torrevieja, Playas de Orihuela, Pilar de la Horadada, Los Montesinos y San Miguel de Salinas.

Para prestar asistencia a estos municipios, el Departamento asume la gestión del Hospital Universitario de Torrevieja y los Centros de Atención Primaria de cada localidad, de forma que la comunicación entre los diferentes niveles de asistencia se encuentra perfectamente coordinada.

3:23 da tarde  
Blogger Augusta EPE said...

Tem a ver, aí isso é que tem

Há quem goste de falar sem ter ido ao local (treinadores de bancada): O hospital de Torrevieja funciona integradamente com os centros de saúde (por isso ser unidade local de saúde) e o seu financiamento per capita não impede que o doente escolha outros hospitais, como acima disse. Por isso tem a ver com o tema do mercado interno competitivo e quem nos dera a nós, portugueses e ibéricos, ter uma organização daquelas, informatizada como dificilmente se vê noutro lado e extremamente agradável para o doente. Mas é preciso ir lá para ver...não basta ver o site!!
A entidade privada que gere Torrevieja não é mais do que uma parte da PPP, mas em que o Estado tem uma equipa de gestão permanente: Parceria Público Privada e não Parceria "Privada Privada"!!!

5:56 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

Não tem nada a ver...
«E forma que la comunicación entre los diferentes niveles de asistencia se encuentra perfectamente coordinada.»
Conhece alguma ULS onde o niveis de cuidados funcionem coordenadamente?!
Não os conhece porque não os há!
Quanto ao modelo de financiamento... No tempo de Correia de Campos falou-se em promover experiências piloto...Até hoje.
Quanto aos treinadores de bancada, mais uma vez, não fale do que não sabe.

11:51 da tarde  
Blogger Augusta EPE said...

Não tem mesmo nada a ver...

Eu estive lá e sei do que falo, independentemente de literatura aqui inserida em "copy paste" por treinadores de bancada que falam, falam, falam...

6:13 da tarde  

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