domingo, setembro 11

Privatização da Saúde, à velocidade da Luz

Hospital Luz Saúde aplica €35 milhões em Cascais. Parceria com a Católica prevê um hospital universitário totalmente privado que abrirá em 2019. 
 A Luz Saúde vai investir €35 milhões no seu primeiro hospital universitário, uma unidade de saúde que ficará instalada em Cascais, e que funcionará em articulação com o que poderá ser o primeiro curso privado de medicina em Portugal, a cargo da Universidade Católica. A parceria casa o interesse antigo da Católica de ter este curso com a vontade da Luz Saúde de expandir a sua capacidade de resposta à crescente procura de cuidados privados. 
 Segundo as informações recolhidas pelo Expresso, a Luz Saúde conta ter o novo hospital pronto em 2019. O que permitirá à Católica avançar, entretanto, com a preparação do novo curso. A reitora da Católica confirma a aliança com a Luz Saúde. Maria da Glória Garcia indica que “o número de vagas a disponibilizar decorrerá da especificidade académica e científica do projecto, a desenvolver com um reputado parceiro internacional”.  Trata-se da Universidade de Maastricht. 
 Sobre o potencial custo para os alunos, as partes envolvidas não entram em detalhes. Mas em Espanha, por exemplo, os cursos privados de medicina custam em média €14 mil no primeiro ano, com as propinas a oscilar entre um mínimo de €797 por mês (na Andaluzia) e um máximo de €,2.372 mensais (na Catalunha). 
 O objectivo desta parceria é que os estudantes de medicina da Católica passem os primeiros três anos do curso no novo hospital de Cascais, complementando a sua formação com outros três anos no Hospital da Luz, em Lisboa, que está a ser alvo de uma duplicação de capacidade. O empreendimento em Cascais resultará da renovação do antigo hospital Condes de Castro Guimarães, cujo edifício foi comprado pela Câmara Municipal de Cascais em outubro de 2015. Pelo imóvel a autarquia pagou então à Segurança Social cerca de €3,5 milhões. O edifício será agora vendido à Luz Saúde. Paralelamente, a Católica contará com um outro edifício junto ao hospital onde será dada a formação teórica. 
 O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, confirmou ao Expresso que “tem havido conversações da Câmara com a Luz Saúde, a Católica e uma universidade internacional de referência para se poder instalar em Cascais um hospital universitário, o que é importante na estratégia de captar universidades para o município”. Carlos Carreiras sublinha que o seu concelho tem conseguido atrair cidadãos estrangeiros em idade de reforma, sendo agora importante conseguir fixar em Cascais mais jovens. “Se tudo correr bem, dentro de três a cinco anos teremos cerca de 20 mil alunos em Cascais”, prevê o autarca. E já há fundos de investimento a planear Projectos de residências universitárias em Cascais.  
E o grupo Mello? 
 A parceria que a Luz Saúde desenvolverá com a Católica surge pouco depois de a concorrente "José de Mello Saúde" ter firmado uma aliança com a Universidade Nova de Lisboa. Em março o grupo Mello anunciou um projecto para criar no futuro hospital CUF Tejo, em Lisboa, um centro de investigação e formação na área da saúde. 
 Este projecto estará vocacionado para a preparação de novos médicos e desenvolvimento de competências em várias áreas, entre as quais a pediátrica. Ao lançar o CUF Tejo, que abrirá em Alcântara em 2018, com um investimento superior a €100 milhões, a José de Mello Saúde já havia indicado pretender fazer desta unidade um “hospital-escola”. 
 A concorrência pelas próximas “fornadas” de universitários espelha bem a confiança que os dois maiores grupos privados de saúde têm no potencial dos cuidados privados. Nos cursos de medicina, a ligação entre a teoria e a prática tem sido feita sobretudo no Estado (nos hospitais universitários de Coimbra, Porto e Lisboa), mas poderá em breve ganhar fôlego com o interesse dos grupos Mello e Luz. 
 Várias universidades privadas já manifestaram vontade de lançar cursos de medicina (além da Católica, são exemplos a Lusófona e a Universidade Fernando Pessoa, que até dispõe de um hospital-escola). Mas nenhuma conseguiu ter cursos acreditados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, nomeadamente por não conseguirem firmar protocolos com hospitais de dimensão relevante, nem assegurar centros de investigação próprios. 
A Expansão da Luz
 Duplicação em Lisboa: O grupo está a duplicar a capacidade instalada no Hospital da Luz, em Lisboa. O projecto de €100 milhões fica concluído em 2018. 
 Ampliação da Arrábida: Também em curso está a ampliação do hospital que o grupo tem na Arrábida (Vila Nova de Gaia), que hoje conta com meia centena de gabinetes de consulta, maternidade, cirurgia, entre outras valências. 
 Reforço em Oeiras: A clínica que o grupo Luz tem em Oeiras está a ser igualmente alvo de investimentos para reforço de capacidade, graças à aquisição de um terreno contíguo à clínica 
Compra em Guimarães: Está concluída a aquisição do Hospital Privado de Guimarães, que implicou um investimento de €25 milhões da Luz Saúde. 
Jornal Expresso, caderno económico, 10 de Setembro de 2016 

 Luz Saúde à velocidade da luz: “Com a Fidelidade nasceu a marca Luz Saúde. Uma marca que dá continuidade ao maior projecto de Saúde Privada em Portugal. A nossa luz é brilhante , entusiasta, dedicada e inovadora. A nossa marca projecta tecnologia, talento e Medicina de excelência. Com o novo accionista avançamos para o futuro à velocidade da luz. link 
Os privados avançam à velocidade da luz para a conquista da hegemonia da área da Saúde. Enquanto isso, o SNS continua a somar derrotas: “Serviço de Cirurgia Vascular suspenso no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro” link 
 Cipriano Justo: «Da série, meu caro primeiro-ministro. Não é arrebitando o portal da saúde, promovendo circos mediáticos e desfiando rosários de promessas que vamos lá. Vai sendo tempo de encerrar a passerelle e começar a fazer alguma coisa que se veja. Entre o que era e o que é não se consegue enxergar a ponta de um alfinete que seja. Não é com adjectivos grandiloquentes para aqui e para ali que se inverte a situação de míngua em que o SNS se encontra. É que não é do serviço de cristal dos casamentos e baptizados que estamos a falar, é de um bem público que é necessário ter condições para, 24 horas por dia e 365 dias por ano, estar apto a dar as melhores respostas às necessidades essenciais em saúde dos portugueses. Por isso, meu caro primeiro-ministro, dê lá também alguma atenção a este dossier porque isto não está famoso. E sabe como é, quando esta coisa começa a correr mal, o risco de se ter o caldo entornado é grande.» 
Isto corre mal de há muito. Os ministros do bloco central, Correia de Campos e Luís Filipe Pereira, gizaram e puseram em marcha o projecto de liquidação do nosso SNS. Os amanuenses que lhes seguiram limitam-se a cumprir calendário.
Dr Feelgood

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